segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

ADMOESTAÇÕES DE IPUWER

Autor presumido - Algum ESCRIBA do Baixo Egito no período da VII Dinastia


Nota: O autor do texto vivia no Baixo Egito, região invadida por estrangeiros, o que explica seu impulso/protesto em criar esta obra literária.

O texto fala sobre as tragédias que caíram sobre o Egito e narra toda a caminhada de um sábio chamado IPUWER, que pretendia chegar ate o Faraó, buscando auxilio para livrar o Egito do domínio estrangeiro, embora não conhecesse a corte, já que vivia no Delta. IPUWER entendia que algo deveria ser feito para alertar o Faraó dos Perigos.
Após o longo governo de Pepi II, nasce a VII Dinastia, que ficou conhecida como “ Dinastia de 70 reis que reinaram por 70 dias “. Cabe lembrar que essa e uma expressão poética para narrar disputas e crises, onde o poder teria passado de mão em mão, chegando mesmo a ter passado por mãos que não possuíam sangue real para governar,
Muitas pessoas traduziram de forma errada a expressão “ 70 reis que reinaram por 70 dias “, duvida sanada já que os soberanos não governaram apenas 1 dia, a duvida serviu para a descoberta de que os Egípcios utilizavam metáforas em sua poesias.
O texto transcrito e uma tradução feita por Eduardo Brandão da versão de Brigitte Evano da historia Admoestação de Ipuwer, publicada no Brasil pela companhia das Letras.


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Nada vai bem no Egito. De norte a sul, o pais parece estar atravessando uma crise de loucura. Uma grande infelicidade se abate sobre o reino do Velho Faraó. Tudo anda as avessas.
O Nilo transborda, mas ninguém aproveita para cultivar os campos. As mulheres ficam estéreis, os homens são dizimados pelas doenças. Nas cidades, os acontecimentos se aceleram de maneira inquietante. Ninguém mais paga imposto. O pais inteiro esta a beira do abismo.
Ante essa situação, os grandes, os que costumam tratar dos negócios do reino, estão desconsolados. Eram ricos antigamente, agora são obrigados a vestir farrapos e o estômago deles chora de fome.
Enquanto isso, os pobres possuem os mais belos objetos, e os que antigamente não tinham, meios nem para comprar sandálias de viagem, agora andam em liteiras douradas.
Os que não tinham pão possuem agora paióis de trigo, mas neles não há escriba capazes de controlar os estoques.
As que não possuíam nem mesmo uma caixa de metal ordinário, vivem agora rodeadas de arcas ricamente ornamentadas, repletas de tecidos suntuosos.
As que eram obrigadas a se debruçar sobre a superfície da água para ver sua imagem, possuem agora mil espelhos.
O Sábio Ipuwer contempla todas essas mudanças inquieto
Não e tanto a reviravolta das situações que o faz estremecer e e temer pelo futuro. Porque, afinal de contas, trata-se apenas do mundo pelo avesso, se os pobres tivessem ficado ricos, mas continuassem a fazer o Reino funcionar corretamente, enquanto os que outrora foram ricos passassem a ocupar o lugar dos pobres, o Reino do Faraó poderia continuar enfrentando os anos por vir.
Mas as coisas não são tão simples. Não há mais estabilidade, nenhuma situação dura o bastante para que a boa marcha do pais seja assegurada.
Ipuwer decide ir ao palácio conversar com o velho faraó.
O palácio Real não parece afetado pela tormenta que atinge a todos. Os guardas estão a postos, a vida corre tranqüila, como se nada de errado estivesse acontecendo lá fora.
Ipuwer pede uma audiência, que lhe e concedida de muito ma vontade. O sábio começa a suspeitar de alguma coisa.
Quando se apresenta diante do Faraó, esta decidido a lhe contar a verdade, por mais que isso possa lhe custar, porque ele sabe perfeitamente que suas palavras vão ser consideradas verdadeiros crimes de lesa-majestade.
De fato, o Faraó vive como antigamente, e Ipuwer suspeita de que ele não esta a par dos acontecimentos. Seus conselheiros, felizes por escapar do tumulto permanecendo no palácio, escondem-lhe a verdade.
Ipuwer começa assim seu discurso:
“ Sabedoria, inteligência e direito estão contigo, mas tu deixa o pais presa da desordem. Ninguém mais respeita tuas ordens. O pais gira como o torno de um oleiro e tu nada fazes”.
Sem deixar ao faraó tempo para replicar, Ipuwer continua:
“ Mentiram-te, o pais esta entregue as chamas, os homens se matam de uma ponta a outra do Reino, os próprios templos já não são respeitados. Faraó, vê o estado do teu pais ! Fica sabendo que es culpado que es culpado pelo que lhe sucede ! Tu te trancaste em teu palácio sem procurar saber o que acontece lá fora. No entanto, devias suspeitar de que teus conselheiros estavam te mentindo. Age já, restabelece a orem, se ainda podes faze-lo !”
Ipuwer percebe no rosto do velho Faraó sinais de cólera. Sabe que sem duvida vai perder a vida por ter ousado dizer a verdade. Contudo, teme, ainda mais que isso, que seja tarde demais para restabelecer a ordem as margens do Nilo.
O Faraó, porem, não esta com raiva dele: esta e furioso contra os que o enganaram por tanto tempo.
Agradece, a franqueza de Ipuwer e pede-lhe que o ajude a trazer o Egito de volta a normalidade.
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Nos trechos transcrito, não constam todos os versos da Obra, afinal o texto não e uma tradução literal e sim tradução do sentido do texto.
Outra grande agressão ao texto foi transforma-lo em literatura infantil, o que acarretou a retirada da passagem onde Ipuwer se queixa ao Faraó dos estrangeiros que vieram para o Egito.
Admoestação de Ipuwer, deixa clara a indignação dos Egípcios aos seguintes fatos.
- O crescente fluxo de estrangeiros para o Egito.
- A incapacidade do governo de impedir que os estrangeiros adquirissem poder em terras egípcias.
Novamente citamos que Admoestação de Ipuwer não e uma obra completa, já que e uma reunião de textos famosos do incompleto pergaminho Egípcio.
Outro texto importante sobre Saque das Tumbas Reais e:

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Olhai agora, alho nunca acontecido se realizou: o Rei foi levado pelos homens pobres ... alguns irresponsáveis despojaram a terra de seu Rei ... homens se rebelam contra as Uraeus que fazem a paz das Duas Terras.
Olhai, o segredo da terra, cujos limites são desconhecidos, foi posto a mostra. O palácio pode ser destruído em uma hora ... As esposas dos nobres trabalham agora no campo, e seus maridos, em casas pobres. Mas aquele que nunca dormiu nem mesmo num leito de tábuas possui agora uma cama própria ... Os donos de belas roupas estão em andrajos. Mas aqueles que nunca costuraram para si possuem agora os mais belos linhos ... . Ela, que nunca possuiu uma pequena mala para guardados, possui agora um baú, e aquela que se olhava nas águas vê-se agora nos próprios espelhos ... os filhos das nobres são atirados contra as paredes ... empregados falam o que querem ...
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Encontramos lamentos sérios que não estavam no texto anterior e estão presente neste, deixando clara a noção de uma revolução, invasão de povos inimigos e a perda dos bens pelos monarcas.
A expressão de que o rei foi levado pelos pobres, permanece sem um significado.
Não podemos entender levado como seqüestrado, Ipuwer estava se queixando ao faraó, o que significa que referia-se a Múmias dos Faraós já mortos.
Os súditos reverenciavam os Faraós como verdadeiros Deuses, seres com poderes inimagináveis. O saque das Tumbas e um trauma para a Civilização Egípcia.

Elise Schiffer
Mar/2008

Publicado no Boletim do Estegossauro  Volume II nº 7

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